quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Práticas Pedagógicas Inclusivas: maquete tátil desenvolvida por alunos de uma escola estadual



#ParaCegoVer: Foto com grande maquete colorida de cidade. Ao lado esquerdo, uma garota cadeirante está tocando na maquete. Ao lado direito, uma pessoa em pé tira foto da maquete.


     Quando nos deparamos com a questão de práticas pedagógicas inclusivas, é importante perceber a importância do envolvimento dos estudantes para a construção dessas práticas. Mais do que apenas realizar a atividade, os estudantes acabarão por refletir sobre a questão da deficiência, da inclusão e da alteridade. Os estudantes são convidados a olhar para o outro e, ao perceber suas particularidades, ser capaz de se colocar em seu lugar. Podem daí derivar debates sobre temas como cidadania, direitos humanos e direitos fundamentais garantidos pela Carta Magna.
     A escola estadual Doutor Jovino Silveira divulgou em seu blog a construção de maquete tátil da cidade de Serra Negra, através do projeto intitulado "Toque e sinta a sua cidade".
     Conforme explicado no texto disponibilizado, a maquete tátil busca mostrar a cartografia para além do que é costumeiramente ensinada na escola, deixando de ser puramente visual e passando a ser sentida e estendida ao toque das mãos, possibilitando que tanto os cegos quanto demais alunos possam ter contato tátil e espacial com a organização do espaço urbano.  Ainda nessa maquete, as placas com nomes de ruas e os principais elementos da cidade estão escritas tanto no sistema braille quanto no convencional.

Notícia disponível em: http://jovinosilveira.blogspot.com.br/2011/12/maquete-tatil-toque-e-sinta-sua-cidade.html 



terça-feira, 22 de novembro de 2016

Acessibilidade e Inclusão


#ParaCegoVer: Charge retrata uma mulher obesa, um idoso que usa bengala, um adulto com uma grande mala de rodinhas e uma mulher levando uma criança dentro de carrinho. Essas pessoas estão em fila, com pontos de interrogações sobre a cabeça, diante de uma escada. Na parte de baixo do desenho está escrito "Para quem acha que 'acessibilidade é só coisa de cadeirante'" e consta a assinatura do cartunista “Ricardo Ferraz”.


Quando nos deparamos com o tema da acessibilidade, inevitavelmente há de se pensar nas questões de como as condições permitem que a pessoa deficiente seja incluída ou não.
Inclusão não significa meramente acesso, e sim acesso de forma autônoma, digno, respeitando as possibilidades e necessidades do indivíduo.
O Art. 53. da Lei Brasileira de Inclusão define acessibilidade como "direito que garante à pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida viver de forma independente e exercer seus direitos de cidadania e de participação social".
Importante salientar que os benefícios que a acessibilidade traz vai muito além da questão da pessoa com deficiência, como mostra a charge.
Sempre que passo pela rodoviária de Campinas, que não possui rampas, fico muito incomodada. Presenciei algumas vezes em que a escada rolante estava em manutenção e o único elevador de acesso ao terminal não comporta a quantidade de usuários. Pessoas com malas grandes desciam por uma escada estreita, a única de acesso à área de embarque. Essa rodoviária me incomoda especialmente porque eu lembro da rodoviária anterior, que não comportava a demanda de ônibus da cidade. Quando soube da construção da nova rodoviária, imaginava como sendo uma oportunidade para oferecer condições melhores, que servissem adequadamente às necessidades dos usuários. 
É uma rodoviária construída recentemente (em 2008) em uma cidade grande e rica como Campinas, mas não foi projetada tendo em vista o desenho universal e nem posteriormente reformada para adequação.  
Ofereci esse exemplo para mostrar como a realidade brasileira ainda se encontra distante do ideal. E como todos perdem com isso.
Com o envelhecimento populacional, a proporção de idosos aumentará em relação aos adultos em idade ativa. O desenho universal é imprescindível para proporcional autonomia à população envelhecida, que futuramente poderá contar com menor quantidade de cuidadores disponíveis; basta observar que atualmente muitos casais optam por não ter filhos, algo pouco usual nas décadas anteriores. 
E a busca pela acessibilidade não deve ser realizada apenas porque todos um dia poderão precisar. Deve ser compreendido que a acessibilidade é direito das pessoas com deficiência, sendo mais recentemente garantido pela Lei Brasileira da Inclusão, mas também expresso através dos princípios fundamentais da Constituição Federal de 1988 está expresso, pois se trata de garantir a cidadania e a dignidade da pessoa humana. Além disso, os objetivos fundamentais que norteiam a construção da Republica Federativa do Brasil buscam uma sociedade justa, igualitária, não discriminatória e a erradicação da pobreza. Tudo isso só é possível quando a acessibilidade é garantida aos deficientes.

Uma cultura pela inclusão precisa ser construída, para que ocorra efetivamente a acessibilidade. Nas escolas, na formação de cidadãos e de profissionais, o tema tem de estar sempre presente e ser debatido e estudado. 

                 

        

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

A pessoa com deficiência na minha história de vida

   Na escola onde estudei o primeiro grau, havia uma sala, em separado, para os deficientes.  Eu achava curioso que pessoas tão diferentes entre si estivessem agrupadas na mesma sala. Como o professor atenderia a demandas tão diferentes e idades tão diversas (correspondente a primeira série até a oitava série)?
   O momento em comum com esses alunos da sala especial era na hora do intervalo. Lembro de um rapaz, negro, que era surdo e que ele me assustou um pouco porque era maior e ele tentava se comunicar comigo, mas eu não entendia, e então brincou de jogar o meu laço de cabelo no chão.
   Durante uns meses, estudei com um aluno que possuía uma fala diferente, mais devagar, mas perfeitamente compreensível. Não lembro exatamente do corpo, mas hoje associo que provavelmente ele tinha PC. Lembro apenas de uma vez estar conversando com o aluno em sala de aula e o professor ter enfatizado para mim que ele era inteligente. Na hora, eu entendi que o professor disse isso para que eu não julgasse pela aparência.   
   No segundo grau e durante a faculdade, não lembro de ter tido contato com alunos deficientes. 
Voltei a ter contato com pessoas com deficiência quando, após a minha residência, fui trabalhar em uma casa de acolhimento para adolescentes. Havia uma abrigada e um abrigado com deficiência intelectual, havendo muitas queixas em relação ao comportamento deles, tanto da equipe quanto dos abrigados. Mas, mesmo com os conflitos, todos entendiam que eram pessoas com singularidades, que deveriam ser vistas e respeitadas.   
   Quando ingressei no Instituto Federal, logo fui fazer uma capacitação no CTI em Campinas, relativa a acessibilidade. Fiquei impressionada com a palestrante cega, muito bonita e bem arrumada, excelente oradora e com um currículo impressionante. E, que além de tudo, caminhava com segurança pelo CTI com um sapato de salto fino e altíssimo. 
   No IF, tenho me deparado com alunos deficientes que mostram o que é superação. O aluno com Síndrome de Asperger que virou o xodó da turma. O aluno cego, que começou o curso indo estudar em um IF em outra cidade, distante 300 km, transferiu para o IF de Bragança Paulista, passou em concurso público, e agora está quase terminando o curso. 
   No meu entender, a inclusão é, a cada dia menos, ver casos como esses como exemplos pessoais de superação. Ou, melhor dizendo, que a superação se torne regra, e que todas as pessoas com deficiência possam desenvolver plenamente os seus enormes potenciais.